segunda-feira, 25 de junho de 2007

Alguns livros interessantes


ESPELHO PARTIDO




Silvio Da-Rin é um dos raros profissionais de cinema a unir talento técnico com brilho e rigor teórico. É o que constatamos em Espelho Partido, um percurso fascinante por filmes, teorias e diretores que marcaram a história do documentário na disputa em torno de um objeto muito especial: o real e sua representação. Para contar essa história, do cinema que duplica, rivaliza e constrói a própria realidade, Da-Rin recupera as origens de uma tradição eu tem como principais personagens o pioneiro francês Lumière, o americano Robert Flaherty e o propagandista inglês Grierson. E então, prossegue com as linhas de desafio e transformação dessa tradição: do demolidor Dziga Vertov às polêmicas em torno do cinema-verdade e do cinema direto, passando pelas novas tecnologias da captação de som e o extraordinário cinema de Jean Rouch. Espelho Partido revela ainda uma outra história do documentário no Brasil, uma linha igualmente apaixonante e seminal: o pioneiro Alberto Cavalcanti, o cinema experimental de Arthur Omar demolindo certezas com seus filmes-manifestos, o documentário paródico de Jorge Furtado seduzindo o espectador para nocauteá-lo, e o momento mais inventivo do documentário de Eduardo Coutinho. Não é todo dia eu se reinventa a história! E lendo este ensaio, o leitor descobrirá porque Espelho Partido, antes mesmo de sua publicação, tornou-se uma referência para os estudos do documentário no Brasil.

O CINEMA DO REAL


O cinema do real Maria Dora Mourão e Amir Labaki (orgs.) O É Tudo Verdade - Festival Internacional de Documentários já faz parte do circuito cultural de São Paulo e do Rio de Janeiro. O evento realiza um importante balanço das mais recentes discussões na área, algumas delas agora publicadas neste volume. A primeira parte do livro aborda a produção em câmera digital e agrupa conferências que partem de questões decorrentes do impacto desta nova tecnologia em confronto com a longa história do documentário. A questão é debatida por Brian Winston e Laurent Roth, tomando como parâmetro a produção européia e americana. A seguir, Russell Porter, Michael Rabiger e Andrés di Tella abordam a produção latino-americana. Entra em cena, então, o documentário brasileiro, com notáveis intervenções de João Moreira Salles, Eduardo Coutinho, Jorge Furtado, Ismail Xavier e Jean-Claude Bernardet, que constituem um dos pontos altos do livro. As diferentes abordagens convergem, no entanto, na afirmação de que quem quiser alcançar uma visão mais complexa da história recente do país, terá de passar, certamente, pelo documentário brasileiro. Fechando a primeira parte, Carlos Augusto Calil sublinha a conquista de uma fatia do mercado das salas de cinema e de um crescente interesse do público. A segunda parte distingue-se da primeira pelo acento marcadamente ensaístico. De um lado, Bill Nichols investiga as narrativas históricas criadas em torno do atentado terrorista de 11 de Setembro e Ana Amado analisa a obra documental de Michael Moore; ambos rondam o espectro da manipulação televisiva e ideológica da era Bush. De outro, Eduardo Escorel e Esther Hamburguer, cada um a seu modo, traçam um panorama desde o cinema novo até os documentários atuais. Seja revisitando a obra de Leon Hirszman ou debruçando-se sobre os filmes Notícias de uma guerra particular e Ônibus 174, ambos enveredam pelas "relações incestuosas" entre ficção e documentário.




CLARÕES DA TELA




A capacidade do cinema para atingir uma população espalhada pelo mundo inteiro, das grandes metrópoles às menores cidades, contribuiu para que seu debate se universalizasse num ritmo muito mais acelerado que a exegese de outras linguagens artísticas conhecera em períodos anteriores. Conjunturas políticas, como o segundo Pós-guerra e a Guerra Fria, reforçaram indiretamente a influência da cultura cinematográfica com forte presença da Igreja Católica e Partidos Comunistas, dentre outras instituições, na disputa pelo debate sobre aquele campo. O presente volume procura recuperar frutos desse trajeto da cultura cinematográfica, a partir de uma experiência local. Os escritos aqui reunidos abordam filmes muito significativos, de diferentes épocas e procedências, marcantes por diferentes motivos para a história do cinema. Todos os textos foram preparados por escritores que atuaram ou atuam em Natal, capital do Rio Grande do Norte, onde aquela cultura se manifestou e manifesta através da imprensa local, do cine-clubismo e de debates em outros espaços intelectuais e políticos. A riqueza dessa cultura local - que deve ter paralelos em muitas cidades brasileiras e em outros países - ainda é pouco conhecida fora da cidade, e até os cinéfilos natalenses mais jovens não leram o que foi escrito por seus companheiros de gerações anteriores. Clarões da Tela - O Cinema dentro de Nós nasceu como uma homenagem ao Cineclube Tirol - que atuou em Natal entre as décadas de 1960, 1970 e 1980 instalado durante muito tempo no Salão Paroquial da Igreja Santa Terezinha -, fortemente marcado pela presença de católicos e comunistas e que promoveu, durante quase duas décadas, as sessões do cinema de arte enraizadas nos debates de pioneiros locais dos anos de 1950 e que vieram a desdobrar-se em novas gerações de apreciadores potiguares de cinema. Os colaboradores pertencem a essas diferentes gerações que escreveram ou escrevem em Natal; do poeta e jornalista Berilo Wanderley, já falecido, aos mais recentes críticos, muitos deles ligados à universidade. Se a maioria elabora, aqui, textos de teor mais clássico, ensaístico ou jornalístico, dois dos colaboradores optaram pela linguagem literária (conto e poesia) e um deles se manifestou na forma de entrevista, o que apenas demonstra a pluralidade das apreensões e formas de expressão que o cinema mereceu e merece. Os filmes são apresentados em ordem cronológica, cobrindo o período de 1916 (Intolerância, de David D. Griffith) a 2002 (Fale com Ela, de Pedro Almodóvar). Um critério estabelecido para a organização do volume foi a abordagem de um só filme por diretor, mesmo naqueles casos em que um mesmo cineasta dirigiu várias obras-primas. Apesar do esforço de todos que participam deste trabalho, algumas ausências de excelentes diretores não puderam ser evitadas (Jean Vigo, William Wyler, Satyjiro Ray, István Szabó, Jacques Rivette, Jean-Marie Straub, Martin Scorsese, iranianos, chineses, argentinos e cubanos, dentre outros), pela dificuldade de acesso a cópias de seus filmes ou pela ausência de comentaristas que pudessem apreciá-los em tempo hábil. Além de homenagear o Cineclube Tirol, o livro quer também comemorar a vitalidade da cultura do cinema em todo o mundo, dialogando com aqueles que amam assistir a filmes e pensar sobre suas conquistas.



TEORIA E PRÁTICA DO ROTEIRO


Para muitos, escrever para cinema e televisão constitui um mistério total: como é que os roteiristas conseguem criar algo do nada? Pois este livro tem a chave do segredo: ele revela exatamente como funciona uma história e transforma os conceitos da roteirização em algo claro, útil e acessível. Os autores mostram que, se não há fórmulas mágicas, existem técnicas capazes de auxiliar o escritor novato - ou um ator, diretor, produtor e até mesmo um fã dedicado - a compreender todos os elementos que entram na elaboração de um script sugestivo e eficaz. Guia destinado a roteiristas de todos os níveis, Teoria e Prática do Roteiro faz uma rica e generosa introdução aos princípios estruturais do drama, permitindo assimilar os meios para se conseguir "uma boa história bem contada", que chegue com sucesso às telas do cinema e da televisão.

Nenhum comentário: